Vida Real Loka
Daniel Barbosa
Bolsista PIBID Letras UFPB – Português (abril/2014)
Vida Loka saiu
de casa, não por escolha, mas por obrigação. Ela não queria saber das aulas de
dança. Jogava futebol muito bem e estava
na mira para jogar, representando o Estado da Paraíba. Na banda marcial da
escola, que, com muito sacrifício, frequentava, procurava os instrumentos mais
pesados da percussão ou dos metais; não queria saber da lira ou dos pratos...
A escola
inteira conhecia Vida, tanto pela sua espontaneidade, como pelo seu
temperamento forte e explosivo. Apesar de tanta marra, a adolescente não
chegava a um metro e sessenta de altura. Na época em nos conhecemos, ela
cursava o sexto ano do Ensino Fundamental e não apresentava o melhor
comportamento da sala. Apesar disso, tínhamos um bom relacionamento, tanto que
depois que saí da escola, nos víamos na rua e, por uma ou duas vezes, trocamos
abraços.
De um modo
abrupto, Vida Loka teve de sair de casa, porque o avô não aceitava a condição,
a identidade, o gênero ou qualquer outra expressão que exista para definir quem
era essa pessoa tão singular. Apenas a avó ficou do seu lado, vindo a
separar-se do marido para apoiar a neta, que era menina e lésbica. Alguns dizem
que a adolescente revoltou-se pela falta de compreensão da família – a base da
nossa vida –, que a desprezou, deixando-a a cargo de uma velha doente. Outros
dizem que não, que a nossa Protagonista escolheu o seu fim.
Passei algum
tempo sem vê-la e sem notícias. Encontrei-a assaltando o ônibus em que eu vinha
para casa, em março deste ano. No dia seguinte, Vida era manchete do noticiário
policial: “Assassinada após realizar um assalto”. Por tudo isso, fica aqui meu
relato e minha tristeza, ao saber que uma ex-aluna não acreditou que a educação
poderia melhorar sua vida, que a família a repudiou por um motivo tão banal
para a época em que vivemos e que a escola não é suficiente para fazê-la
acreditar na mudança. Sinto uma frustração imensa por dizer que acredito na
educação e ‘dar de cara’ com uma Vida Real tão divergente.