sexta-feira, 25 de abril de 2014




Vida Real Loka

Daniel Barbosa
Bolsista PIBID Letras UFPB – Português (abril/2014)

Vida Loka saiu de casa, não por escolha, mas por obrigação. Ela não queria saber das aulas de dança.  Jogava futebol muito bem e estava na mira para jogar, representando o Estado da Paraíba. Na banda marcial da escola, que, com muito sacrifício, frequentava, procurava os instrumentos mais pesados da percussão ou dos metais; não queria saber da lira ou dos pratos...
A escola inteira conhecia Vida, tanto pela sua espontaneidade, como pelo seu temperamento forte e explosivo. Apesar de tanta marra, a adolescente não chegava a um metro e sessenta de altura. Na época em nos conhecemos, ela cursava o sexto ano do Ensino Fundamental e não apresentava o melhor comportamento da sala. Apesar disso, tínhamos um bom relacionamento, tanto que depois que saí da escola, nos víamos na rua e, por uma ou duas vezes, trocamos abraços.
De um modo abrupto, Vida Loka teve de sair de casa, porque o avô não aceitava a condição, a identidade, o gênero ou qualquer outra expressão que exista para definir quem era essa pessoa tão singular. Apenas a avó ficou do seu lado, vindo a separar-se do marido para apoiar a neta, que era menina e lésbica. Alguns dizem que a adolescente revoltou-se pela falta de compreensão da família – a base da nossa vida –, que a desprezou, deixando-a a cargo de uma velha doente. Outros dizem que não, que a nossa Protagonista escolheu o seu fim.
Passei algum tempo sem vê-la e sem notícias. Encontrei-a assaltando o ônibus em que eu vinha para casa, em março deste ano. No dia seguinte, Vida era manchete do noticiário policial: “Assassinada após realizar um assalto”. Por tudo isso, fica aqui meu relato e minha tristeza, ao saber que uma ex-aluna não acreditou que a educação poderia melhorar sua vida, que a família a repudiou por um motivo tão banal para a época em que vivemos e que a escola não é suficiente para fazê-la acreditar na mudança. Sinto uma frustração imensa por dizer que acredito na educação e ‘dar de cara’ com uma Vida Real tão divergente.


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